terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Lido: El Libro de García

Se há coisa que se pode dizer com absoluta certeza de não se estar a emitir nenhum disparate é que Jorge Luis Borges deixou ampla descendência literária. E no caso de Mauricio-José Schwarz nem é preciso dar grandes voltas à imaginação para incluir este seu El Libro de García nessa descendência, pois o conto faz referência direta ao argentino e à biblioteca infinita que ele imaginou. Mas mesmo que a não fizesse a referência seria óbvia, pois no centro do enredo está uma livraria, propriedade do García do título que, não sendo propriamente infinita, tem no entanto o caráter exaustivo e metódico de Borges, pois as suas prateleiras estão cheias com todas as edições possíveis, em todas as línguas possíveis, de Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll. Porquê? Como? Para quê? São essas as interrogações do protagonista da história, que fica fascinado e não consegue livrar-se daquela loja até conseguir descobrir-lhe os segredos. De uma forma bastante semelhante à que Lygia Fagundes Telles utiliza no conto de que falei aqui ontem.

Este conto de Schwarz, de resto, tem também vários pontos de contacto com o da autora brasileira, incluindo o facto de, não sendo propriamente ficção científica (está mais para weird fiction, para algo de próximo ao realismo mágico, com muito de surreal e onírico à mistura), se vê incluído numa antologia de FC. E ser igualmente um bom conto, felizmente não estragado pelos erros de paginação que atormentam outras histórias da publicação em que se insere. De bónus, inclui ainda uma reflexão curiosa sobre a natureza e utilidade da literatura. Boa leitura, sem dúvida.

Contos anteriores deste livro:

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