domingo, 16 de julho de 2017

Lido: Maria Altinha

Manuel da Fonseca, como Alves Redol, foi um dos escritores mais conotados com o neorrealismo e, não por acaso, o seu conto que é aqui incluído tem muitos pontos de contacto com o que o antecede. Muda o género, Maria Altinha é mulher e o rapaz de Redol é um homem mas, tal como este, também a personagem de Fonseca é pobre e trabalhadora agrícola, e por isso sujeita às violências quotidianas que acompanham essa condição no Portugal de meados do século XX. Mas o género tem importância, e a história que Manuel da Fonseca apresenta é a história de uma violação.

Sim, o conto é duro, é violento, está bem escrito e bem elaborado, mesmo não sendo daqueles contos que esmagam pela perfeição literária. Mas tenho sérias dúvidas de que consiga refletir fielmente toda a carga da situação. Manuel da Fonseca é um homem a escrever sobre uma violência sofrida sobretudo por mulheres. Percebe-se que se solidariza, mas não a sente. Pelo contrário, parece até mostrar alguma compreensão, mesmo que renitente, pelo violador e aquilo que o move. Parece querer dizer "os factos da violação são estes, tirem as vossas conclusões", mas ao mesmo tempo também parece remeter para a condição social a maior parte da responsabilidade pelo ato de violência sexual. E tudo isto me levanta reservas. Foi um conto que li com mais incómodo do que gosto, e não um incómodo bom.

Contos anteriores deste livro:

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