quinta-feira, 15 de junho de 2017

Lido: Predadores

Às vezes há contos que nos fazem lembrar outros contos sem que se trate, necessariamente, de uma questão de cópia, plágio ou qualquer outra dessas coisas menos agradáveis. Por vezes é apenas a mesma ideia desenvolvida separadamente por duas pessoas diferentes, ou até mesmo partes da mesma ideia que criam uma certa atmosfera de familiaridade. Por vezes é mais do que isso mas menos do que a cópia deliberada; pode ser um conto lido anos antes que se demora no inconsciente e regressa ao papel reescrito por outra mão, por exemplo. Acontece, e com mais frequência do que se poderia supor.

É o caso deste Predadores. O início, sobretudo, despertou na minha cabeça ecos fortes de A Noite de Walpurgis, de Hugo Rocha: apesar de a floresta ter sido substituída por uma lixeira, também aqui há um observador que assiste a uma cerimónia aparentemente diabólica sem que para isso tenha sido convidado. O desenvolvimento da história, porém, é outro: se na história de Rocha o observador não é detetado, nesta é, seguindo-se a perseguição que justifica o título. Os monstros são predadores, o protagonista a caça. Certo. E isto poderia fazer com que este conto de Ricardo Lopes Moura ganhasse a sua autonomia e valor próprios. Mas se Moura nos contos lidos anteriormente até escreve razoavelmente bem, pese embora uma pequena falha aqui, outra ali, este conto tem demasiadas dessas falhas para ser possível fechar os olhos ao resto, além de nunca conseguir criar o suspense que uma história deste género exigiria. Como consequência, é um conto fraco, o pior do livro até ao momento.

Contos anteriores deste livro:

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