sexta-feira, 28 de abril de 2017

Lido: A Balada da Vala dos Velhos

Embora seja conhecido principalmente pela música, J. P. Simões não é um desconhecido destas andanças da literatura, pois publicou em 2004 a peça Ópera do Falhado e, em 2007, uma coletânea de contos intitulada O Vírus da Vida. Não me devia, portanto, ter surpreendido pela qualidade literária deste conto, A Balada da Vala dos Velhos, uma história contada em jeito de depoimento por um velhote bon vivant mas bem consciente de que já tem pouco tempo para viver. Mas a verdade é que surpreendi.

(Em minha defesa, diga-se que é frequente as pessoas terem as portas da edição escancaradas assim que ultrapassam um certo limiar de notoriedade noutras áreas, sem que para isso precisem de saber pôr uma frase a seguir a outra.)

Pois a verdade verdadinha é que A Balada da Vala dos Velhos é uma história francamente boa. Uma história bem contada, num ritmo impecável e num português de bom nível, que sabe sustentar o interesse do leitor até ao fim, mantendo em suspenso a revelação do que raio se passa ali, sem que para isso precise de esquecer a criação de personagens (pelo menos o protagonista-narrador e o amigo que acaba por ser uma espécie de subprotagonista estão bastante bem construídos) e uma muito sumarenta série de ideias sobre a sociedade e a vida.

A vida, no fundo, é o tema desta história. J. P. Simões fala-nos da vida, de como pensa que se deve vivê-la, falando-nos da morte, daquele momento em que a maior parte do nosso tempo já ficou para trás e uma doença ou outra torna o desfecho inevitável a um prazo mais ou menos curto. E fala da morte, e portanto da vida, de uma forma desassombrada, um bom bocado rockeira apesar de as músicas que aqui soam serem outras. Alegre. A vida, parece dizer-nos, é para ser vivida até ao fim, e o resto que se lixe.

Em suma: gostei. Bastante.

Este livro (como todos os desta coleção) foi obtido gratuitamente na internet.

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