sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Lido: Boca da Trompete

Alexandra Pereira regressa com mais dedicatórias, sendo que as deste conto devem ser as primeiras a encontrar sem quaisquer problemas destinatário leitor, uma vez que as dedicadas são duas amigas da autora.

Quanto ao que realmente interessa, Boca da Trompete, assim mesmo no feminino, por estranho que soe, é um conto fantástico bastante surrealista, com uns pozinhos de onírico, ambientado numa estrada perto da Boca do Inferno, Cascais, onde Alexandra Pereira coloca um estranho sucedido: o falecimento por atropelamento ciclista de Dizzy Gillespie, trompetista de jazz (ou pelo menos de um Dizzy Gillespie, trompetista de jazz). E descreve-o com profusão de pormenores e uma galeria castiça de personagens que nele participam ou o testemunham. É isso, aliás, que faz o conto.

E é um bom conto, não só por estar escrito com a habitual competência salpicada de poesia e ironia que Alexandra Pereira costuma mostrar em prosa corrida, mas também porque a história está bem concebida, com um jogo hábil entre aquilo que faz sentido lógico no contexto de uma prosa que se quer realista e os elementos fantásticos, proféticos, que nela se entrelaçam e porque até tem, imaginem só, diálogos bem feitos. Sim. Alexandra Pereira, afinal, sabe criar diálogos em que se sente gente a falar. Diálogos sem purpurinas literatas e com os oralismos terra-a-terra das pessoas reais. Muito bem. Assim é que é.

Contos anteriores deste livro:

2 comentários:

  1. Uau consigo fazer diálogos.... :))) Qualquer dia envio-lhe coisas que escrevi para Teatro e Cinema (concretizadas ou nem tanto) para me criticar os diálogos. Ok? :-) Ou então tenho de colocar tudo isso acessível online, é muita tralha.... mas hoje o que não está online não existe.

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    1. Por acaso, essa dos diálogos é uma das velhas pechas do cinema português, apesar de ultimamente as coisas estarem bastante melhores. Mais que do teatro, embora este também sofra disso, porque o teatro é intrinsecamente mais artificioso. Um diálogo para cinema deve parecer que há ali gente real a falar, e no nosso cinema demasiadas vezes não parece.

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