domingo, 2 de julho de 2017

Lido: O Rapaz não Gostava das Mãos

Alves Redol foi uma das figuras de proa do neorrealismo português e este conto, O Rapaz não Gostava das Mãos, não deixa ficar esse crédito por texto alheio. Muito curto mas bastante forte, como é apanágio do movimento, conta um episódio passado em Bucelas, que hoje poderá ser um dormitório de Lisboa mas em tempos passados não há tanto tempo assim era região quase tão interior e pobre como os contrafortes da Serra da Estrela, quando um jovem, trabalhador à jorna, chega a uma taberna e, raivoso, pede uma garrafa de vinho. Segue-se um desabafo, durante o qual ficamos a saber por que motivo o rapaz não gostava das mãos.

Trata-se de uma história com inquietações sociais claras, a que aqueles que apreciam as suas ficções absolutamente ocas e alienantes poderiam mesmo chamar panfletária. Ignorem-nos, agora e sempre. É uma bela história, na qual Redol, com grande economia de meios, consegue pintar um retrato muito duro da vida dos assalariados agrícolas no Portugal de meados do século XX. Uma história capaz de incomodar consciências? Ainda bem. É precisamente para isso que serve a arte.

E sim, nada aqui existe de fantástico. Afinal, o movimento chamava-se neorrealismo.

Contos anteriores deste livro:

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