segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Lido: Hora Zero

Hora Zero (bibliografia), por contraste com o conto anterior deste livro, é um dos contos realmente bons de Ray Bradbury, fundindo na perfeição a ficção científica com o horror. É daquelas histórias das quais depressa se torna difícil falar sem fazer revelações sobre o enredo que podem estragar a experiência de leitura a quem é mais sensíveis a essas coisas, portanto fica o aviso de que daqui em diante este texto tem spoilers. Se não querem apanhar com coisas dessas, parem de ler agora!

Aos resistentes, explico: trata-se de uma história de invasão alienígena, mas não de uma invasão alienígena qualquer. É uma invasão de uns alienígenas particularmente inteligentes e conhecedores da psicologia humana, pois se servem da tendência muito adulta de menosprezar as imaginativas histórias das nossas lindas crias, e da pulsão que estas últimas têm para a brincadeira, o segredo conspirativo e as construções, para as levar a criar portais por onde as hordas invasoras pudessem chegar para tomar conta do nosso planeta.

A grande mestria de Bradbury neste conto é colocar-nos a meio caminho entre os miúdos, que funcionam sem saber (ou sabendo e não se importando porque é divertido) como uma quinta coluna dos invasores e detêm toda a informação, e os pais, alheios a tudo, que encaram como fantasias os bocadinhos de informação que os miúdos vão deixando cair aqui e ali, informando-nos a nós, que estamos no meio, e, ao contrário dos pais, acreditamos neles, daquilo que está a acontecer.

Aquilo que faz com que uma história funcione mesmo bem pode ser uma miríade de coisas. Nesta, como em alguns dos outros contos de Bradbury (e estou a lembrar-me do conto Virão Chuvas Suaves como outro exemplo), é o ponto de vista.

Contos anteriores deste livro:

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