quarta-feira, 20 de julho de 2016

Lido: Mais Vale Quem Deus Ajuda que Quem Muito Madruga

Mais Vale Quem Deus Ajuda que Quem Muito Madruga é mais uma história popular recolhida por Adolfo Coelho com bastante mais interesse sociológico do que literário. Conta o que acontece a dois almocreves depois de se terem posto a discutir a propósito do ditado popular que intitula a história, defendendo um que ele é verdadeiro e afirmando o outro que é falso. Sem chegarem a nenhuma conclusão, vai cada um para seu lado agir em concordância com as suas ideias, e aquele que fica a contar com a ajuda divina prospera e o outro, o que aposta no trabalho, acaba morto à paulada. Moral da história: faças o que fizeres, trabalhes ou fiques deitado de papo para o ar, a única coisa que interessa é a intervenção divina. Suponho que a ideia dos padres que certamente fizeram espalhar histórias como esta teria sido incutir a ideia de que tudo acontece porque e como deus manda, mas a verdade é que elas acabam por funcionar como perfeitos elogios à preguiça. Nada contra, por princípio — a indolência, se bem usada, se bem explorada, é um magnífico incentivo à criatividade e até à produtividade. Mas quer-me parecer que houve demasiada gente a encarar demasiado literalmente histórias destas. Não basta armarmo-nos de indolência e ficarmos à espera do que deus manda: é preciso, lá está, sabermos usá-la.

Ah, sim, já me esquecia: o conto é fantástico, claro.

Contos anteriores deste livro:

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