terça-feira, 12 de julho de 2016

Lido: 2014 Campbellian Anthology - Sofia Samatar

Sofia Samatar é outra autora com uma presença invulgar nesta antologia, visto surgir com um excerto de romance e dois contos.

A Stranger in Olondria (Being the Complete Memoirs of the Mystic, Jevick of Tyom), o excerto, é um texto bem escrito, que indica que o romance deverá ser uma fantasia em mundo secundário contada na primeira pessoa (afinal, trata-se de uma memória). O excerto é o início do livro, o primeiro capítulo, e acompanha o momento em que o rapaz narrador passa à primazia na hierarquia dos filhos do pai, mercador abastado, pois o irmão mais velho tem uma mente frágil. Se a construção narrativa acompanhar a qualidade da prosa, deverá ser um bom livro.

Honey Bear, o primeiro dos dois contos, é uma história muito forte emocionalmente que acompanha uma família que tenta manter uma máscara de normalidade perante um mundo destruído. A história vagabundeia entre a ficção científica e o horror, uma ficção científica apocalíptica ambientada num planeta invadido por uma espécie alienígena predatória, vampírica, que o polui de uma forma que altera a biologia de animais e plantas... e a das próprias pessoas. Estas tentam apenas adiar o inevitável, fechando os olhos, enterrando a cabeça na areia. Mesmo (ou especialmente) quando o inevitável se encontra no seu seio. Na sua família. Bastante bom.

Selkie Stories are for Losers, o segundo dos contos, é uma história subtil sobre a diversidade, a aceitação e a diferença. Une em si um universo inteiro de circunstâncias incomuns, da imigração ao lesbianiasmo, de religiões minoritárias à mestiçagem. Mas uma mestiçagem especial, pois um dos membros do casal progenitor da protagonista, segundo fica subentendido mais que entendido, não é humano, mas uma selkie. Em Portugal julgo que se desconhecem estas criaturas mitológicas, presentes nas histórias folclóricas do noroeste da Europa; uma espécie de metamorfos que vivem como focas no mar mas, se sobem a terra e despem a pele, podem viver como humanos. É isto que confere o elemento fantástico a uma história que de outra forma seria inteiramente realista, uma história de personagem algo desconfortável na sua pele, mas mais devido ao efeito que o entorno social tem do que por algum desconforto intrínseco. Muito bom, mais uma vez.

Sofia Samatar é outra autora a ter debaixo de olho.

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