quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Lido: Engenhos Mortíferos

Engenhos Mortíferos (bibliografia) é um romance de ficção científica pós-apocalíptica, de Philip Reeve, que, pese embora uma pegada algo juvenil e o enredo aventuresco que ela traz consigo, é muitíssimo interessante. Diria mesmo que é francamente bom.

Em boa medida porque parte de um magnífico "e se".  E se, num tempo futuro indeterminado, a maioria das pessoas vivesse não já em cidades estáticas, sedentárias, mas em urbes móveis, transformadas em gigantescos veículos que percorrem os continentes em busca de presas, outras cidades e povoamentos mais pequenos, móveis ou não, que, à falta de outras fontes de recursos, servem para as alimentar de matérias-primas para o seu crescimento e sobrevivência?

O cenário é a Europa, mas uma Europa irreconhecível, despovoada, reduzida por séculos desta estranha espécie de "darwinismo municipal" a ermos quase desabitados, marcados pelos gigantescos rastos entrecruzados deixados pelas lagartas das cidades vencedoras, ou pelo menos sobreviventes. Entre estas, uma das maiores e mais poderosas é, claro, Londres, ou não fosse o autor britânico, e é aí que a história arranca.

No entanto, a civilização do "darwinismo municipal" não é a única a sobreviver no planeta. Bárbaros vagueiam também pela Terra, esquivando-se e escondendo-se como ratos frente a esta nova espécie de superdinossauros mecânicos, alimentando-se dos seus restos. E há boatos, transmitidos de boca em boca, no ocidente, com um misto de assombro e descrédito, histórias de ouvir contar que provavelmente serão apenas mitos, de que algures a oriente cidades sedentárias ainda resistem aos novos tempos.

O cenário é soberbo, um cozinhado de diversos temas e influências, entre os quais a abordagem steampunk ganha relevo apesar de este não ser um livro steampunk (a maquinaria tem tudo a ver com o subgénero, mas nada existe aqui do retrofuturismo que lhe está inerente), que Reeve enriquece com uma história de amizades (ou será amores?) improváveis, um velho mistério que envolve antigos crimes e que põem os protagonistas em perigo mortal e numa fuga repleta de peripécias, acasos e azares, e uma velha superarma, encontrada por um explorador dos territórios selvagens, que o dirigente supremo de Londres procura a todo o transe fazer funcionar para... para quê? Isso já será dizer demasiado.

Não encontramos aqui uma ficção científica sofisticada, hipertecnológica, daquela FC que coloca questões relevantes para o presente e o futuro e se debruça profundamente sobre elas. Mas este livro também não tem nada de pulp à moda antiga. É uma história de ficção científica de aventuras, baseada num cenário original e muito bem concebido, com uma ideia base de se lhe tirar o chapéu e que, se faz lembrar alguma coisa, é, pelo cenário, pelo ritmo, pela abordagem ao ato de contar histórias, as antigas histórias extraordinárias de Júlio Verne.

Bom. Realmente bom.

Este livro foi comprado.

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