sábado, 27 de julho de 2013

Lido: Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2005

O Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2005 é um livro pertencente a uma série de anuários editados no Brasil e que têm como objetivo registar criticamente o que vai sendo publicado dentro dos géneros fantásticos, ou em língua portuguesa, ou só no Brasil. Os autores, julgo que de todos estes anuários, são César Silva e Marcello Simão Branco. Nesta edição em concreto, que já tem alguns anos, há a participação adicional da americana M. Elisabeth Ginway e de um tal Jorge Candeias, português, que não faço ideia de quem seja.

O livro faz um apanhado da edição no ano a que diz respeito, com listas de títulos, alguma análise numérica, comparações com anos anteriores, etc., mas está longe de se resumir a isso, pois a maioria das suas quase duzentas páginas é ocupada com noticiário, obituário, críticas, tanto a obras editadas no ano a que o livro diz respeito como a obras com várias décadas, entrevistas e artigos. E foi isso que mais me interessou na leitura que lhe dei (embora os dados concretos sejam o que mais me vai interessar na fase seguinte).

Estará completo? Não, não está. Na verdade, foi essa a principal frustração que senti ao colaborar nestes anuários (colaborei em duas edições): por exaustivo que tente ser o trabalho de compilação de edições, há sempre lacunas, e por vezes lacunas bastante grandes. Especialmente em Portugal, onde só recentemente algumas (só algumas; nem todas) editoras se aperceberam do potencial de divulgação que o contacto com comunidades de fãs e a internet pode oferecer e é comum surgirem livros de género publicados por editoras inesperadas e quase em segredo. Se não calha alguém esbarrar com um desses livros numa livraria, algures, passam completamente sob o radar, o que é uma técnica de vendas, convenhamos, no mínimo bizarra.

O resultado é que ainda hoje vão sendo acrescentados ao Bibliowiki livros publicados em 2005 ou até antes. Livros que, naturalmente, não foram incluídos no Anuário.

Por conseguinte, o trabalho é ingrato. Por mais duro e dedicado que seja, fica sempre incompleto. É certo que estes anuários têm uma secção dedicada a correções e acrescentos de livros de anos anteriores, mas mesmo assim a incompletude é mais norma que exceção.

Ou seja: essa tarefa é mais adequada a uma compilação dinâmica, em constante mutação, como um website, do que a uma compilação estática, como um livro. E foi em boa medida essa constatação que me levou à decisão de concentrar os meus esforços na criação e ampliação do Bibliowiki, abandonando a colaboração com este projeto.

No entanto, lendo-o agora à distância de mais de meia década, constato que a sua principal valia não é nem nunca foi a de servir como listagem e divulgação de edições, mas a de proporcionar um olhar sobre o género. Um olhar que, como todos os olhares, é subjetivo e falível, tanto na simples listagem de títulos, como, ou principalmente, nas obras e autores que são selecionados para merecer um exame mais atento através da crítica, dos artigos e da entrevista. É isso que o justifica como livro, e provavelmente foi isso que fez com que estes anuários não só continuassem a publicar-se até hoje, como até tenham abandonado a edição artesanal que este ainda teve (o livro é um conjunto de fotocópias, com capa também em fotocópia e encadernação manual) para serem acolhidos por uma editora estabelecida e impressos profissionalmente.

E encarado desta forma, o livro (ou os livros; este e os outros) é muito interessante para qualquer pessoa que tenha pelas literaturas do imaginário um interesse que inclua alguma componente de análise. Não será livro para simples leitores, tampouco será livro para aqueles escritores que se contentam em escrever o que lhes dá na gana, sem se preocuparem muito com o que os rodeia, mas para estudiosos, dos mais aos menos sérios, é um projeto muito válido e de todo o interesse. E seria bom que alguém fizesse algo de semelhante por cá.

Um exemplar deste livro veio-me parar às mãos por ter nele colaborado.

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