sábado, 6 de abril de 2013

Lido: Pol Pot's Beautiful Daughter (Fantasy)

Pol Pot's Beautiful Daughter (Fantasy) — e sim, o "(Fantasy)" faz parte do título — é uma noveleta de uma espécie de fantasia horrorífica, de Geoff Ryman, que nos apresenta uma filha fictícia do sanguinário ditador cambojano, a viver uma vida de luxo absoluto em 2004, com 18 anos. Sith, assim se chama a filha de Pol Pot, é uma ultrabeta que vive para fazer compras e se recusa a pensar no pai, no que o pai fez, nos generais que o ajudaram a fazê-lo e a que trata por tios, e que ignora por completo as condições em que o seu povo vive e aquilo por que teve de passar.

Mas de repente, surgem os fantasmas dos mortos. Aparecem-lhe em fotografias impressas por impressoras, surgem-lhe na televisão, telefonam-lhe. E, conjuntamente com um empregado de uma loja de telemóveis por quem se apaixona, os fantasmas vão obrigá-la a abrir os olhos, a crescer, e a encarar o passado de frente.

Esta é uma grande história. Uma história sobre o crime, a culpa e a redenção. Sobre a alienação e o consumismo, sobre a solidão, sobre o amor. E sobre a reconciliação, e o que é preciso fazer para que ela aconteça. Não só individuais, mas sobretudo coletivos, pois a filha de Pol Pot é uma representação dos filhos do velho Camboja dos massacres, da loucura e das guerras. Tudo nesta noveleta, aliás, tem conteúdo simbólico, às vezes muito forte. Há muito por baixo do enredo superficial, tanto que talvez não baste uma só leitura para captar todas as pequenas e grandes subtilezas que aqui se escondem. Mas basta para compreender a grande qualidade desta obra. Excelente.

Contos anteriores deste livro:

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