segunda-feira, 8 de abril de 2013

Lido: O Prometeu Agrilhoado

O Prometeu Agrilhoado, de António Cabral, é uma novela fantástica que tem bastante em comum com um romance que li recentemente: O Centauro, de John Updike. Foi puro acaso, uma consequência dos malabarismos que eu faço com as pilhas de livros que tenho por ler, para evitar que colapsem sob o seu próprio peso e instabilidade. Mas a verdade é que também aqui temos a mitologia grega a irromper por uma situação bem afastada do Olimpo, desta feita uma região rural no Alto Douro em meados do século XVII. Embora esteja bem escrita, esta história soube-me a muito pouco. Em parte pelo mesmo tipo de limitação pessoal que já afetou o completo desfrute do romance de Updike: o meu deficiente conhecimento dos antigos clássicos gregos. O Prometeu Agrilhoado é uma peça de Ésquilo, e certamente que a identidade no título não é coincidência, certamente que Cabral a transpõe para o seu ambiente nortenho. Mas, não tendo lido a obra de Ésquilo, não posso sabê-lo com certeza.

Este é o grande mal, diga-se em jeito de parêntese, de toda a literatura centrada na referencialidade; se é só isso que contém, se não acrescenta qualquer coisa à sua condição de obra derivativa dos mestres do passado, basta que o leitor desconheça estes mestres — e ninguém é obrigado a conhecê-los — para a obra perder para ele boa parte do interesse.

Outro motivo por que a história me soube a pouco foi não lhe ter encontrado um fio condutor suficientemente sólido. A narrativa é dispersa, episódica, entrecortada por poemas em quadra popular, e nela surgem personagens quase fantasmagóricas de tal modo fraca é a sua caracterização. Não foi invulgar dar por mim a pensar "mas quem é este/a agora? Que faz aqui? De onde veio isto?" E isso fez com o texto nunca me prendesse. Fiquei com a sensação de que António Cabral pode não maltratar a língua mas é bastante fraco enquanto contador de histórias.

Talvez seja só sensação. Talvez seja só desta história. Tenho mais algumas neste livro para verificar se assim é ou não.

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