sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Lido: Cobra de Fogo

Cobra de Fogo (bib.) é uma longa noveleta de Sid Castro sobre, basicamente, uma corrida. Mas uma corrida especial, à volta do mundo, entre gigantescas locomotivas de combustão interna que, apesar do nome, são uma espécie de cruzamento entre as locomotivas ferroviárias que conhecemos, os hovercrafts, e uma peculiar variedade de veículo aéreo que se socorre do efeito de solo, desenvolvido especialmente na URSS, o ecranoplano. Uma corrida em que conta não apenas a perícia dos condutores ou a qualidade tecnológica dos engenheiros que conceberam as máquinas, mas também o armamento de que estas podem dispor para eliminar a concorrência. Uma corrida entre nações, num mundo alternativo em que os Estados Confederados da América sobreviveram até meados do século XX e o Brasil se conservou império até esse momento, em que uma vez mais se espelham as tensões entre nações dominadas por uma extrema-direita racista e violentamente nacionalista e o resto das nações que, na nossa história, desembocaram na Segunda Guerra Mundial. Mas num mundo que decidiu resolver tais tensões de forma pacífica depois de passar por uma devastadora guerra de vinte anos. Como? Através da tal corrida, precisamente. E o que está em jogo desta vez? Nada mais, nada menos, que o domínio sobre a Amazónia.

Trata-se no fundamental de uma história alternativa com forte influência pulp e numerosas referências ou homenagens a figuras de primeiro plano da FC. Faz lembrar com frequência os desenhos animados dos Malucos das Máquinas Voadoras (Wacky Races no original); embora não haja aqui nenhum pombo para apanhar nem nenhum cão armado em esperto, há a corrida, as máquinas estrambólicas, as rocambolescas artimanhas e alguns Dick Dastardlies. Também faz por vezes lembrar as histórias do Rocketeer. Tem defeitos, sim. Há infodumps em excesso, nomeadamente no pano de fundo alo-histórico, há uma linha narrativa que nem sempre parece inteiramente coesa, há um desfecho apesar de tudo previsível, dado o tom de Brasil-potência que o texto toma desde o início. Mas também há com fartura daquele velho e indefinível sentido de maravilha de que tanto se fala quando se fala da boa velha (e antiquada) ficção científica. E isso, julgo, compensa em boa medida os defeitos desta história. Na verdade, ele foi tão intenso que conseguiu até fazer-me ultrapassar a minha antipatia pelo pulp. Coisa rara. Graças às locomotivas, as verdadeiras protagonistas desta história.

Contos anteriores deste livro:

4 comentários:

  1. "Dick Vigarista", na tradução brasileira. Sid Castro é um autor para se acompanhar, no cenário atual da FC brasileira.

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  2. Bom dia Jorge,

    Primeiramente, gostaria de parabenizá-lo pelo trabalho incrível e pelo blog.
    Estou escrevendo um artigo científico sobre o Panorama da Literatura Internacional Fantástica no Brasil, seria um grande prazer se pudesse conceder uma entrevista ao mesmo.
    Fico no aguardo de sua resposta.

    Obrigada!
    Marina

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  3. Meu e-mail para contato:
    marina_quei@yahoo.com.br.

    Obrigada.

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