quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Lido: O Pequeno Guia do Céu, de Tristan de Sapincourt

O Pequeno Guia do Céu, de Tristan de Sapincourt é um pequeno conto surrealista de Afonso Cruz, que fala, marginalmente, de uma viagem espacial feita pelo protagonista em 1613 a bordo de um aparelho por si concebido. Mas o que realmente interessa Cruz neste texto é criar uma atmosfera que remete para os mais antigos percursores da ficção científica (e lhes faz diretamente referência, aliás) e para as suas histórias movidas a imaginação pura e não contaminada pelos subprodutos da Revolução Científica e Tecnológica que são o combustível da ficção científica propriamente dita. Isto equivale a dizer que quem esperar encontrar aqui verosimilhança, ambientes planetários tais como eles são, enfim, essas coisas palpáveis da FC, desengane-se. Não há cá nada disso. O conto faz lembrar alguns dos contos das Cosmicómicas de Calvino, e faz lembrar também (na verdade faz lembrar mais) alguns dos contos de Rhys Hughes, muito em especial Os Tritões Lunares. Como eles, está muito bem escrito, como eles roça a ficção científica sem realmente o ser, como eles usa a erudição como pedra de toque.

Gostei, mas não posso dizer que tenha gostado muito. Porque sou daquelas pessoas que acham muitíssimo mais interessante e repleto de maravilhas o universo visto através de lentes de vidro do que da cabeça de Tristan de Sapincourt. O universo, o verdadeiro e palpável, tem revelado assombros que estão muito para além da imaginação seja de que Tristan for. E não há desenho de Saturno feito no século dezassete que chegue sequer perto de uma única das fotografias da sonda Cassini.

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